Eu não conheço a família, mas ouvia as conversas:
- É, desde que o Gabriel nasceu, ta complicado ficar com um carro duas portas, agora com ele na escola tá
impossível.
Era um carrinho velho, um Chevette se não me engano, duas portas. Todas as vezes que o pequeno Gabriel ia descer do carro, o motorista tinha de se retorcer no banco para o garoto conseguir sair.
Um tempo depois, a família apareceu com um Gol, provavelmente 1999, muito bem conservado com quatro portas e o adesivo: “Gabriel, um anjo enviado por Deus”.
Agora Gabriel podia descer, sem o pai ter que se retorcer no banco. Bastava parar, Gabriel descer e o pai arrancar. Nem precisava desligar o motor.
Um veículo a serviço do homem. O homem podendo com seu dinheiro comprar o conforto para sua família.
Até que um dia o pequeno Gabriel saiu meio apressado e bateu a porta com mais força!
O pai gritou – “Moleque burro, precisa bater assim? Tô pagando esse carro ainda! “
Pois é, a porta que foi comprada para o pequeno Gabriel, era agora uma peça cara que deveria ser tratada com o carinho de um filho.
O conforto custou caro e o pequeno Gabriel, de anjo caiu para burro, ignorante, um estorvo.
Assim são os carros: Comprados com a justificativa do conforto, acabam virando os reais donos de seus servos, os humanos.
Não há anjo que resista.
Um comentário:
Há alguns anos (uns 20 anos, mais ou menos), as crianças não eram "anjos enviados por Deus", nem tinham seus nomes expostos em adesivos como hoje ("Cuidado, fulano a bordo"), os carros de 4 portas eram raríssimos, as crianças tinham que ir pra escola de bicicleta ou à pé, mas ainda acho que éramos mais felizes...
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