sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

A Falta de Educação no Trânsito por Clayton Palomares


A Falta de Educação no Trânsito

A falta de investimentos na educação do brasileiro reflete diretamente na qualidade dos relacionamentos no trânsito. Agressividade e falta de respeito pela vida é geral.





 12 de Dezembro de 2013

Ontem morreu mais um ciclista aqui em Rio Claro, ex “pacata” cidade do interior paulista, de quase 200 mil habitantes. O lamentável acidente choca os cidadãos, em especial a grande comunidade de ciclistas da cidade, que possuí mais de 170 mil bicicletas, e tem 18% de sua população se locomovendo exclusivamente de bicicleta.
Manoel Borges de Carvalho, de 58 anos, foi vítima de um motorista que o atropelou e fugiu sem prestar socorro. Segundo testemunhas, seu Manoel pedalava pela ciclofaixa da Av. Brasil, quando foi atropelado por um carro no cruzamento da Av. 80, na tarde de quarta, dia 11/12. Ele foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros e encaminhado ao PSMI com vida, mas não resistiu aos ferimentos.
Por sorte, testemunhas identificaram a placa do veículo e informaram ao Corpo de Bombeiros, caso contrário seria mais um caso impune, fomentando o aumento da violência no trânsito. A polícia já identificou o veículo e intimou o proprietário a se apresentar na Delegacia.
Mais um motorista que irá responder legalmente pelo ato cometido, com o agravante de fugir sem prestar socorro. Pena que acontecimentos como esse, infelizmente, já são corriqueiros e banais nos noticiários de nosso país, inclusive com gente saindo impune em inúmeras situações, basta ter “bala na agulha” e dinheiro no bolso suficiente para contratar um bom advogado. Lamentável.
Ainda pior que o próprio acidente, uma atrocidade, é perceber que existem pessoas que concordam e promovem este comportamento monstruoso. No grupo Rio Claro, da rede social Facebook, por exemplo, podem ser vistos comentários de pessoas que, frente ao atropelamento, conseguem criticar a categoria dos ciclistas esquecendo-se dos motivos do próprio acidente. Num processo que é clara a inversão de valores, vítimas são transformadas em algozes e quem às julga se considera correto em sua colocação; Será pré-conceito ou falta de informação? Talvez fobia a bicicleta e aos ciclistas?
Quem sofre de “ciclofobia”, por exemplo, terá muita dificuldade em respeitar e talvez, nunca consiga se colocar no lugar de um ciclista (e isso vale para todos os tipos de fobias a qualquer tipo de meio de transporte). Mas daí a generalizar que todo ciclista é infrator, que eles não usam ciclovias e ciclofaixas, que são pobres, arruaceiros e prejudicam o trânsito, chegando ao ponto de querer atropelar um ciclista, se trata mesmo de desvio de caráter grave.
As pessoas não se dão conta que, infelizmente, a maior arma no trânsito (além do próprio veículo) ainda é a imprudência e o desrespeito à vida por parte dos motoristas, não importa que veículo ele conduza.
O bom funcionamento do trânsito no mundo contemporâneo se baseia em um tripé: infraestrutura, educação e fiscalização. Sem infraestrutura para transitar não haverá trânsito, ou seja, sem ruas e avenidas não haveria fluxo de veículos nela; a educação é a responsável por ensinar como utilizar essa infraestrutura, seguindo leis, regras e normas para otimizar o fluxo e algumas gentilezas para garantir uma harmonia dele; já a fiscalização serve para coibir e punir os infratores, fazendo com que as leis, regras e normas sejam seguidas corretamente, por TODOS.
Em relação à falta de educação, se trata de um problema que não é visto só no trânsito, mas em inúmeros setores de nossa sociedade. E gente ruim também, prova disso é a existência de tantos criminosos, psicopatas, sociopatas, capitalistas vorazes e exploradores, pessoas com desvio moral e ético, usurpadores, facínoras, enfim... Classifique como quiser, o fato é que existem péssimos cidadãos que contribuem quase sempre só de forma negativa para o mundo e para as outras pessoas, não fosse assim os presídios não estariam abarrotados.
Assim como os cidadãos agem diferentemente em sociedade, existem diferentes condutas de motoristas no trânsito. Existem os excelentes, os bons, os medíocres, os maus e alguns que vão além, são monstruosos, como o caso de Ricardo Neis no Rio Grande do Sul, que atropelou mais de 100 ciclistas em uma bicicletada, ou no recente caso do outro monstro, quando fugiu após atropelar um ciclista na Av. Paulista arrancando seu braço e o jogando em um rio... ainda bem que os "monstroristas" são uma minoria, mas uma minoria que assusta e mata.
Da mesma maneira que existem “monstroristas”, existem “cicloidiotas”, “motociclistardados”, “pedestrasnos” e por aí afora. O desrespeito não é exclusivo de um tipo de meio de transporte, pois o meio de transporte é só um meio, a pessoa que o conduz é quem desrespeita as leis e os outros, não importa qual tipo de modal esteja conduzindo. Portanto, as generalizações às categorias (Ex.: os ciclistas isso, os motociclistas aquilo...) são extremamente equívocas e míopes, a grosso modo, é como dizer que todo Alemão, só por ser alemão, é “nazista”.
Fato é que quem não está protegido por um para-choques (motociclistas, ciclistas e pedestres) corre o maior risco. A lei é clara, o Código de Trânsito Brasileiro afirma que o veículo maior deve prezar pela segurança do menor, e assim sucessivamente. Mas na prática, vemos o oposto a isso, o maior se impõe sobre o menor e assim por diante. - Quem já levou uma fechada de um caminhão na estrada, em alta velocidade, sabe bem do que estou falando.
Agora, quem não tem para-choques e já foi abalroado, fechado ou cortado por um caminhão (mesmo na mão preferencial) sabe mais ainda como é assustador e difícil o convívio com o trânsito, principalmente sendo desrespeitado diariamente e correndo riscos muito maiores de atropelamento, mutilação e morte a qualquer acidente.
Dentro deste contexto, não podemos nos esquecer de duas questões fundamentais do trânsito, que já resolveriam muitos conflitos existentes hoje se todos tivessem clareza: A primeira é deixar claro que quem transita, quem precisa se deslocar, quem é transeunte, são as pessoas e não os veículos. E a segunda, já dita, que o respeito à vida dos transeuntes vem em primeiro lugar, independente do tipo de modal.
Quem já viu o trânsito da Índia ou da China, por exemplo, deve ter se questionado “Como ele flui daquela maneira e sem acidentes?” Trânsito abarrotado de gente, muitas bicicletas, motos, carros, ruas sem sinalização nos cruzamentos, sem semáforos, preferenciais, placas informativas, enfim, sem a estrutura que estamos acostumados e cobramos que exista no mundo ocidental.
Sabe por que nesses países o trânsito funciona? Porque existe respeito pelo próximo, pelo seu espaço, pelo seu direito, pela sua vida, pela diversidade. É uma questão cultural ensinada em casa desde cedo e não nas escolas, auto-escolas ou impostas pelas autoridades competentes. Nesses países observamos claramente que a questão fundamental do trânsito é o respeito à vida. À sua, à dele, à minha, à nossa.
Eu sou ciclista, pedestre, motorista e motociclista, utilizando esses modais com mais frequência exatamente nesta ordem. Fui atleta e já vivenciei muitas situações ruins no trânsito, mas aprendi a me impor. Como meu principal meio de locomoção é a bicicleta vivencio diariamente situações de desrespeito para com o ciclista, como fechadas, xingamentos, buzinadas e “finas”. Para quem já tomou pedrada e laranjada nas costas enquanto treinava no acostamento, ter um carro o ultrapassando em alta velocidade a menos de 1,5m de distância (regulamentado por lei) não é uma coisa que espanta mais, infelizmente. Resta a triste pergunta: “Qual será a próxima atitude que não espantará mais no trânsito?”

Por: Clayton Palomares, ciclista graduado em administração de empresas, Presidente da Federação Paulista de Mountain Bike, Vice Presidente da Confederação Brasileira de Mountain Bike e apresentador do programa De Bike TV.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

O batismo da Amy !

Como tradicionalmente faço, minhas bikes são batizadas com nomes de cantoras, depois de um pedal em circuito fechado.

Depois de um pedal de 10km ida e volta, a Tito Urban 700 foi batizada de Amy Winehouse.

O projeto é 1000km com a Amy até 2014 ! Ainda falta muito, mas estamos a caminho. Nos próximos POSTS detalhes da construção desta bike.


sábado, 20 de abril de 2013

Que bicicleta usar na cidade?




Este Post está mais do que atrasado para ver a luz do dia.

Mas como eu mesmo digo, antes tarde do que mais tarde, vamos aos fatos, rapidamente.

Há tempos eu procurava uma bicicleta para usar na cidade que substituisse minha antiga Caloi-10 que depois do atropelamento não se recuperou completamente e não consigo alinhamento correto de algumas peças.

Depois de procurar algumas opções, resolvi tentar a Tito Urban 700.

A Tito é uma fabrica nacional que produz na China. Eles desenvolvem o produto aqui, produzem lá e fazem controle de qualidade aqui. Tito, vem de Antonio "Tito" Caloi, que é herdeiro da família Caloi. Desde 1999 a fabrica Caloi não é mais da família, mas Tito não conseguiu ficar longe das magrelas e abriu a Tito.

A Urban tem um história legal que contarei em outro POST.

Estou com a Tito Urban 700 desde Dezembro e estou gostando muito. Ela é bem leve, equilibrada. Fácil de utilizar na cidade ou em trilhas leves. E é muito elegante ! ! ! !

Minha proposta é utilizá-la por 1000km e ver como ela se porta. Só vou trocar um componente quando quebrar ou houver ameaça da segurança.

Já passei de 200km com ela e até agora ela está se portando super bem. Nenhum parafuso foi trocado.

Os pneus são aro 700 que causam certa estranheza, dada a unipresença das aro 26 nas bicicletarias. O pneus que ela usa é muito bom, liso no meio e com poucos cravos nas bordas, aguenta bem areia, pedra e não trava no asfalto. A primeira calibragem do pneu só foi necessária aos 100 km ! ! 

Freios v-brake, são bem adequados, mas molhados viram um sabão, as  marchas Shimano 21v engatam com a bike parada e com um leve clique em botões. Não consegui o ajuste correto ainda nas marchas mais rapidas, mas acho que é falha minha.

Estou fazendo em torno de 12km/h no transito com ela. Praticamente mesmo tempo que fazia com a C-10, mas creio que esta velocidade deva subir com o ajuste correto das marchas.

A falta do "cano alto" faz lembrar um modelo feminino e é algo extremamente útil na cidade.

Mas as duas grandes vantagens da Tito Urban são, primeiro a simplicidade de uma bicicleta com apenas o essencial para a cidade e segundo o conforto. É o tipo de bicicleta que você volta para casa porque o sol está se pondo e não porque está cansado. 

Selim e posição para pedalar praticamente sentado.

Então, meu caro, se você está procurando uma bicicleta simples, barata e confortável para usar na cidade, acho que você está procurando a Tito e nem sabe !

A Tito vende direto do site, comprei a minha assim, você pode achar também em algumas lojas da rede Centauro

A Tito já apresentou outros modelos que falaremos mais pra frente.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Pista de mountain bike de Rio Claro deve ser inaugurada em breve


“Dirt Park Rio Claro” - nome dado pelos ciclistas na rede social Facebook – deve ser inaugurado em breve, segundo a FPMTB – Federação Paulista de Mountain Bike o evento reunirá ciclistas da região para uma demonstração à população do que é a modalidade e dos projetos que serão implantados na pista.

Após uma longa espera a pista de Mountain Bike construída no canteiro central da Av. Brasil, em Rio Claro, está em faze final de obras e já vem passando por testes, como o que acontecerá neste domingo, dia 24, das 14 às 18h.

A FPMTB – Federação Paulista de Mountain Bike em parceria com a Prefeitura Municipal realizarão um evento de inauguração que reunirá atletas de todo estado, além de músicos, grafiteiros e autoridades locais para trazer atividades a toda população no local que deve ser entregue em breve aos munícipes.

O local possui três pistas de Pump Track e comportará 04 linhas de Dirt Jump (Kids, Iniciante, Amador e Profissional), modalidades consideradas de base e formação para todas as especialidades do ciclismo, mountain bike e bicicross.

O evento de inauguração será no estilo “Jam”, premiando o best trick (melhor manobra) e acontecerá nas linhas Iniciante e Amador, que já estão assentando e estarão finalizadas em Abril. Os Pump Tracks também estarão abertos para uso e já se encontram em funcionamento sendo utilizado pelos alunos da Escola de Bicicleta.

No momento o local já está atendendo a Escola de Bicicleta que funciona através de uma parceria entre a Prefeitura Municipal e a equipe Velo/SEME/Giant Rio Claro de Ciclismo, atendendo crianças, jovens e adolescentes de 06 a 17 anos todas as terças e quintas, das 09 às 11h e das 15 às 17h, e aos sábados, das 09 às 12h. As aulas são gratuitas, com a obrigatoriedade dos pais (ou responsáveis) inscreverem os menores no setor de matrícula da Secretaria Municipal de Esportes (anexo ao ginásio Felipe Karan). Maiores informações pelo telefone (19) 3533-5433 (é obrigatório que a criança vá de tênis).

Assim que a linha profissional da pista for construída, ela será a maior pista de Dirt Jump do país, e uma das três maiores das Américas, e o melhor, a pista foi construída através de parcerias e doações articuladas pela prefeitura e pela FPMTB, praticamente sem custos para o município. Desde a terra, o start gate de alvenaria, tubulações, alambrado, entre outros foram doados por parceiros, sem custos para o município.

Embora o nome do local ainda não tenha sido definido pela Prefeitura, os ciclistas que já estão utilizando e realizando testes junto a FPMTB deram o nome de “Dirt Park Rio Claro” e,inclusive, criaram uma fanpage do local na rede social Facebook (http://www.facebook.com/dirtparkrioclaro) onde discutem assuntos relacionados a pista.

A idéia é que o local seja aberto ao público durante a semana e aos sábados com horário definido e acompanhamento de monitores capacitados da FPMTB, além de uma escola de bicicleta que irá atender gratuitamente crianças, jovens e adolescentes ensinando noções de trânsito, direção defensiva e pilotagem. A Federação e a Secretaria Municipal de Esportes estão acertando os últimos detalhes desta parceria que beneficiará diretamente o esporte e a cidade de Rio Claro.” – Afirmou Clayton Palomares, presidente da FPMTB.

Texto e Fotos: FPMTB



quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Relato do Audax 200k da Kelly Priscila em Floripa.


Conheci Kelly Priscila na faculdade onde eu dava aulas. Sempre parava pelo guichê onde ela atendia para conversarmos sobre qualquer coisa e tudo mais. Sempre de bem com a vida, sorriso aberto e ligada no 220. Ela saiu da faculdade antes de mim e foi para Florianópolis. Graças aos milagres da tecnologia, essa distância não impediu de conversarmos de vez em quando nas redes sociais.

Quando soube que ela completou o Audax 200k já pedi um depoimento, até porque já tinha lido textos dela e gostado muito. Depois umas cobranças, ela me mandou o texto que segue, que posto praticamente sem alteração para não tirar a emoção das palavras.

Preparativos:

Há muito tempo tinha vontade de participar de um Audax, mas sempre, por um motivo ou outro, acabava procrastinando. Foi assim em abril de 2012, quando fiz a inscrição mas acabei não a efetivando pois escolhi participar de uma corrida de rua aqui da cidade.

Quando fiquei sabendo da prova do dia 09 de dezembro de 2012, não perdi tempo: fiz a inscrição, paguei a taxa e tratei de me preparar.

Pedalo desde que me conheço por gente. Há uns 10 anos, porém, essa prática ficou ainda mais constante e, de uns três anos para cá, pedalo todos os dias, treinando triatlhon e também utilizando a bicicleta como meio de transporte aqui na ilha.

Depois de fazer a inscrição, me surgiu a dúvida: 100 ou 200 km? Fiz a inscrição nos 200, sendo que poderia mudar para os 100, caso quisesse, até o dia anterior ao evento, na retirada do kit. Sabia que tinha força pra conseguir os 200k, mas quis tirar a prova: no final de semana anterior ao Audax, fiz um longão de 120 km e o resultado foi positivo. - Se deu pra fazer 120k, 80k a mais eu consigo também – pensei.

Escolhi fazer a prova com a minha speed, uma Merida Road 903. Dias antes, uma super revisão, pneus novos, estoque de câmaras de ar e pronto. A minha parte "máquina" estava pronta.

Durante a semana me deparei com um problema significativo, pelo menos para mim: na lista dos inscritos, nenhum conhecido. Apesar de eu fazer parte do mundo dos esportes, me parece que a galera da corrida/triatlhon não se identifica muito com o Audax, talvez por ser mais um passeio do que uma prova competitiva. Aliás, importante ressaltar isso: o Audax é um passeio, e seu maior concorrente é você mesmo. 

O fato de completar a prova dentro do limite de tempo estabelecido é a grande vitória. Mesmo sem nenhum conhecido, estava animada. O meu único medo era ter que pedalar sozinha em alguns trechos que são extremamente perigosos na ilha. Pra ajudar, uns dias antes da prova, um ciclista foi atropelado por um carro na SC 401 e isso, infelizmente, tem se tornado comum aqui. A cidade é linda, maravilhosa, amo de paixão, mas infelizmente tem pouca (muito pouca) ciclovia. Mas essa já é uma questão para um outro assunto.

Bom, no dia anterior ao Audax comi tudo errado. Ao contrário das provas que participo que incluem também a corrida (nas quais como apenas carboidrato, não como doce, não como nada que possa me atrapalhar no momento da prova), no dia anterior ao Audax comi chocolate, pizza de calabresa, amendoim, sorvete. Tudo errado, mas por sorte isso não fez diferença alguma. Ainda no dia anterior, fiz um check list das coisas que não poderia esquecer, sendo:
  • 8 saches de carboidrato em gel;
  • 10 barrinhas de cereal;
  • BCAA;
  • Câmaras de ar reserva;
  • Bomba para pneu;
  • Colete refletor;
  • Lanternas e farol;
  • Capacete;
  • Luvas,
  • Passaporte (dado pela comissão organizadora)
  • Bermuda
  • Camisa
  • Pilhas reserva dos refletores


A largada.


A largada era às 06h30, portanto tinha que chegar com pelo menos 30 minutos da largada, para realizar o check in na bike. Por sorte, moro perto do local da largada e por volta das 06h já estava pronta para o desafio. Não tinham muitos participantes, creio que no máximo uns 250, e eis que no meio de tanta gente, encontrei um conhecido das corridas. Fui até ele e me animei em saber que pelo menos nos km iniciais eu teria companhia (ele se inscreveu no Desafio 100k).

O dia já estava clareando quando a largada foi dada. Uma largada simples, sem muito glamour. Seguimos pela ciclovia da Beira Mar Norte (meus locais de treino) sentido ponte para o continente. Fiquei decepcionada, pois as bikes passaram por baixo da ponte (uma passarela que tem anexo à Ponte Pedro Ivo). Minha expectativa era que a Ponte Colombo Sales tivesse uma faixa fechada para que os ciclistas pudessem utilizá-la, como foi em outras edições do Audax, mas nessa, não aconteceu. Mesmo assim a passagem ilha continente foi, como sempre, muito boa. O visual é deslumbrante e vale muito à pena.

Os 50 primeiros kilometros.

Já no continente, seguimos pela Beira Mar de São José, onde às 07h30 haveria a largada de uma prova de corrida de rua, na qual encontrei vários amigos já se preparando. Um grito de "vamo lá" e seguimos nossa viagem. Nesse ponto já percebia que o pelotão dos ciclistas começava a se dispersar: muitos ficavam pra trás, muitos voavam na frente. Eu e meu amigo ficamos creio que pelo meio, junto de outros ciclistas que tinham o mesmo objetivo que nós: completar o passeio bem, dentro do limite de tempo estabelecido. Pedalamos alguns quilômetros pela rua lateral à BR 101 e, quando paramos no primeiro posto, o sol já começava a dar as caras. A cada posto era necessário entregar o passaporte para que os organizadores carimbassem com o horário da passagem (no primeiro posto entendi o porquê do plástico que vinha junto ao Kit. Meu passaporte chegou ensopado de suor). Aproveitei para repor as energias com algumas frutas, carboidrato e água, muita água. Continuamos a pedalada, já sentido de volta à ponte. Já na ilha, seguimos pelo sul com o sol pegando forte, mas ainda tranquilos, sem nenhum incomodo maior. Transitamos pela ciclovia da Beira Mar Sul (que é bastante conhecida por mim e pelas minhas magrelas, já que é caminho para meu trabalho) e nesse momento o sol começava a judiar um pouco mais. Lembro que estávamos a cerca de 50 km, ou seja, a metade do passeio para meu amigo, e um quarto para mim. Seguimos pela rodovia do Campeche, e mais a frente, na entrada da rodovia que segue para o Rio Tavares, nos despedimos: a partir dali, o trajeto era diferente para quem fizesse o Desafio 100k e o Audax 200k.

A primeira metade.


Me vi sozinha. Alguns ciclistas que estavam atrás de nós seguiram em frente, realizando o mesmo trajeto que meu amigo. Meu caminho era à esquerda, numa rodovia simples, com poucos carros, um acostamento mediano e bastante verde ao redor. Por sorte, por ser moradora da ilha, conheço os muitos cantinhos da cidade, e isso ajuda muito o psicológico. Afinal, acredite: provas de longa distância são muito mais cabeça do que corpo.

Encarei a rodovia sozinha. Poderia parar e esperar que algum ciclista chegasse, mas achei melhor tocar em frente. Quando a rodovia me possibilitou enxergar a frente, vi um pontinho colorido e apertei o pedal para conseguir alcançá-lo. Era um homem de uns 60 anos sobre uma bela MTB, com uma camisa de um grupo de pedal daqui de Floripa. Cheguei mais perto e puxei conversa: esse novo amigo seria minha companhia por todo o restante do percurso. E o melhor, ele já havia feito o Audax 300 km, ou seja, supra-sumo da experiência.

Não mais sozinha, segui ao encontro daquilo que eu diria ser o trajeto mais cansativo e dolorido de todo o passeio. O Belíssimo Ribeirão da Ilha, com suas casas históricas, praias lindas e seu charme cultural, possui também, como parte de toda essa riqueza da ilha, alguns quilômetros de calçamento de pedras e paralelepípedos que acabam com qualquer bicicleta speed e com os glúteos de qualquer ciclista. Tudo bem, tudo bem, eu sabia do trajeto e escolhi a speed por que quis, então, agüentei calada. Mas que doeu, doeu e a velocidade média que estava, até então, perto dos 25km/h, caiu para os pobres 10km/h. Ali eu já sabia que o tempo de conclusão do passeio ia aumentar muito.

Não sei exatos quantos km de calçamento passamos. Creio que uns 16 ao todo, sendo que 8 para ir e 8 para voltar (chegamos num ponto final na Caiera da Barra do Sul, onde os barcos saem para a Ponta do Papagaio e de lá, após a comprovação e reposição das energias no posto, voltamos pelo mesmo trajeto até o início do Ribeirão da Ilha).

Nosso trajeto agora era rumo ao Pântano do Sul, mas antes disso, uma parada para reabastecer as energias com algo salgado. Paramos em uma padaria e comi uma super coxinha de frango. Nesse momento o cronometro da bike marcava 100 km. Metade já havia sido conquistada, mas o solzão do meio dia mostrava bem o que nos esperava nos 100 km finais.

Última metade


Após o lanchinho, voltamos à pedalada. Sim, o sol estava muito forte e isso era o maior dos obstáculos. 

Continuamos sentido sul, e a cada vez que eu olhava o mar e as belezas da natureza, resgatava forças para continuar, mesmo com o sol extremamente forte. Chegamos ao Pântano do Sul bastante cansados (pelo sol e pelo esforço do calçamento do Ribeirão), mas muito felizes. O cansaço e felicidade podiam ser vistos no rosto de todos que ali chegavam também: é o tal do cansaço que satisfaz. Nessa altura do campeonato (e do sol), tinha até um maluco tomando cerveja. Eu fiquei com a água.

Continuamos nossa pedalada. Voltamos pelo caminho do Pântano do Sul, passando pelo Morro das Pedras, sentido Rio Tavares. Foi um caminho muito cansativo. Quando chegamos à Lagoa da Conceição, o corpo sofria um pouco: o sol não dava uma trégua! Paramos, compramos água gelada, tomamos carboidrato e fomos encarar a subida do Morro da Lagoa. A subida foi tranqüila, a descida melhor ainda. A Praia Mole estava lotada, mas o transito de carros não estava tão ruim. A descida da Barra da Lagoa foi deliciosa: 75 km/h de puro ar na cara e muita disposição de viver.

Devia ser aproximadamente umas 14h (não lembro precisamente o horário), quando seguimos pela rodovia da Barra da Lagoa, sentido Moçambique – Rio Vermelho. Creio esse ter sido o trajeto mais eterno de minha vida, mas vencemos também. Ao chegar ao Rio Vermelho paramos em uma pseudo loja de conveniência que tinha de tudo: desde lustre até banana. O lugar era bem feio. O banheiro tinha duas portas: uma de vidro e uma de madeira que dava pra cozinha. Fiz xixi olhando pela porta de vidro, torcendo que ninguém passasse por ali. Engraçado que enquanto eu estava no banheiro, a dona do pseudo estabelecimento bateu na porta de madeira e queria que eu abrisse para ela colocar a toalha de mão. Coisa de louco.

Saímos de lá vivos, já que a água gelada era boa, e carregamos conosco mais dois amigos que também estavam reabastecendo as energias no local. Eram dois garotos novos, sendo que um já havia concluído o Audax 200k e o outro estava tão ansioso quanto eu para completar o primeiro.

Continuamos nossa pedalada, agora em quarteto. O sol, adivinhem: castigava!

Quando chegávamos perto do Ingleses uma ambulância passou por nós, sentido contrário. Ninguém falou nada, mas tenho certeza que todos nós, por dentro, rezamos para que nada de ruim tivesse acontecido com algum ciclista.

Quando chegamos ao Ingleses, um estouro em uma das bicicletas fez acabar com o sonho de um dos amigos que me acompanhavam. A corrente da bicicleta do garoto que estava ansioso para completar o primeiro Audax estourou, e a prova acabou ali para ele. Por sorte, o carro da organização, que vez ou outra passava por nós, estava ali por perto e o levou até o próximo posto.

Quando chegamos em Canasvieiras soubemos que a Ambulância que havia passado por nós, infelizmente, estava a caminho do resgate de um ciclista que estava parado, descansando, quando um bêbado assassino, armado de seu carro, bateu contra ele. Por sorte nada de grave aconteceu com o ciclista. E provavelmente o bêbado deve hoje andar solto pelas ruas, como acontece em quase todos os casos de atropelamento aqui na ilha.

Nesse posto os participantes já estavam muito animados e comigo não era diferente. Faltavam pouco mais de 30 km para o final do percurso. O sol, apesar de ainda forte, já não judiava mais tanto. Continuamos sentido Jurerê Internacional (último posto), e o trânsito nesse momento estava bastante intenso. Saímos do posto por volta das 17h, e fomos sentido SC401, local onde são realizados muitos treinos diários, mas que, infelizmente, (e por total descaso dos órgãos competentes) não há infraestrutura para tal. A volta foi tranqüila, apesar do forte movimento de carros voltando das praias do norte. Quando chegamos perto do local de partida, percebi que a corrente da minha bicicleta estava bastante larga e o cambio parecia estar desmontando, talvez pelo efeito do Ribeirão da Ilha. Por sorte, só percebi isso quando faltavam menos de 400 metros para o final. Sorte, pois, como disse antes, o psicológico manda e muito.

Terminei os 200 km em 11 horas e 26 minutos, abaixo do tempo esperado para conclusão do percurso. Minha ideia era conseguir abaixo das 10 horas, mas os obstáculos do Ribeirão da Ilha e o sol forte me impediram de conseguir. Para o Iron Man, que pretendo fazer em 2014 ou 2015, a média feminina que pretendo seguir, de conclusão da parte da bicicleta, é de aproximadamente 7 horas. Claro que são situações diferentes: bike diferente, solo diferente, treino diferente, clima diferente, trajeto diferente, quilometragem diferente. Mas já sei que tenho que melhorar bastante.

O que achei da prova:


Prós:
  1. É um passeio e não uma prova. Você está ali para vencer a si mesmo. Eu venci;
  2. Ter conseguido o Brevet dos 200k me dá o direito de participar no de 300k. Talvez eu encare.
  3. Floripa dispensa comentários. O cenário da prova é digno de aplausos e sorrisos, mesmos quando os glúteos doem no calçamento do Ribeirão da Ilha.
  4. Você fará, com certeza, mais amigos;
  5. A sensação de conquistar e superar seus próprios limites é boa demais.

Contras:


  1. Não senti segurança nenhuma. Existem alguns trechos da ilha que são muito perigosos e que são contemplados pelo trajeto do Audax. Estou acostumada com provas de corrida e triátlon onde existe sinalização, alteração de transito e staffs que trabalham para o evento ocorra sem maiores problemas. Senti falta disso, pois o tempo todo pedalei como se estivesse pedalando por si mesma, como faço sempre.
  2. Paguei quase R$ 200,00, ganhei uma camiseta, uma medalha e um certificado. Acho que os organizadores das provas (e isso se encaixa perfeitamente aos organizadores de provas de corrida a pé, também) devem repensar os valores cobrados.
  3. Faltou um local pra tirar foto com a medalha, um portal de largada e chegada. Nessa edição, não tinha nada disso.

No mais, vale muito a pena. Se você mora ou conhece Floripa, sabe do que estou falando. Se não conhece, vai se surpreender com nossa ilha maravilhosa.

Como disse antes, pretendo no ano de 2014 ou 2015, participar e concluir o Iron Man. São 3,800 mts de natação, 180km de bike e 42km de corrida (maratona). O Audax me serviu como base para as dificuldades que poderei encontrar no caminho.

Corri duas maratonas de Santa Catarina (2011 e 2012), e várias outras provas de menor distancia. Sou persistente no que faço e sei que, em muitas vezes, a minha teimosia e força de vontade fala mais alto quando o físico já não agüentar mais falar. Acho que isso é o que muda tudo: a garra, a vontade, a persistência. Por que por mais que doa, por mais que canse, por mais que seja sofrido, nada paga a sensação de ter conseguido chegar lá. E como já diz o ditado: o sofrimento é passageiro, a conquista é permanente.

Um grande abraço.

Kelly Priscila Franzoni

Meu sonho é concluir um IronMan e pretendo alcançar esse sonho em breve.









Para saber mais:

Audax no wikipedia
Site oficial do Audax Brasil
Site oficial do Audax Frances (que deu origem a série)
Proximos Audax