Outro dia tive que fazer umas das coisas que mais odeio na face da Terra: Esperar em fila de banco. Odeio porque em geral eu espero e quando chego para ser atendido sou avisado que o que eu queria fazer não é possível naquele caixa e perco minha espera. Isso tinha acontecido no dia anterior e imaginava que o mesmo ia acontecer naquele dia.
A fila estava relativamente grande, mas por felicidade, quatro caixas atendiam até que velozmente - No dia anterior tinha dois caixas funcionando lentamente.
Fila é por definição, uma organização linear de pessoas ou coisas em que o que chegou num tempo t0 fica na posição p0, quem chega no tempo t1 fica na posição p1, onde (t1 > t0 se e somente se p1 > p0). Existem casos onde t1 > t0 e p1 < p0. Nestes casos t1 é chamado de "fura-fila".
Uma fila de banco é composta, em sua maioria por pessoas que tem por objetivo serem atendidos pelo caixa do banco. Digo maioria porque há filas onde donos levavam cães. Mas são raras.
Numa fila de banco pode acontecer de tudo. Você pode encontrar velhos amigos ou velhas rixas. Conhecer gente nova. Conversar, ouvir ou simplesmente fazer Sudoku no celular - Que é o meu caso.
Outra coisa que me distrai em fila é observar o comportamento humano mediante o inevitável. Alguns relaxam, outros ficam tensos. Alguns olham o ambiente e outros olham os outros.
No caso desta fila em especial, uma das primeiras pessoas da fila era uma moça jovem, com uma roupa de empresa. Uma moça bonita com uma roupa que, por dizer assim, ressaltava suas formas.
Quando a pobre jovem foi atendida no caixa, esta debruçou sobre este para poder ouvir e ser ouvida. Nisto suas formas ficaram ainda mais evidentes. Não que eu consiga imaginar algo sexy numa fila de banco. Mas observei o comportamento dos meus companheiros co-fila.
Alguns olhavam discretamente. Alguns olham menos discretamente. Mas a maioria dos homens olha para que vejam que ele está olhando. É, homem não olha por olhar. E também olha pouco para ver. Olha para ser visto. Isto fica muito evidente quando dois homens estão juntos.
E este é o caso. Os dois olharam. Um fez um comentário ao outro. Os dois riram. Um abriu o celular, focou – e pelo jeito abaixo da linha da cintura e fotografou. Mostrou para o outro, ambos riram e ficaram comentando.
A jovem nada percebeu. Terminou sua tarefa, pegou suas coisas e foi embora com um sorriso profissional no rosto.
Esta atitude me deixou relativamente perplexo. A crise big-brother que ataca o país chegou a minha fila de banco.
Numa pesquisa pelo Google vi, meio que abismado que isto é um tipo de prática comum. Principalmente entre adolescentes, o que não era definitivamente o caso. Alguns fotografam colegas no banheiro ou na fila do parque de diversões. Mas o alvo preferido são as desconhecidas.
Fotografia é algo sagrado.
Tanto quanto o corpo humano.
Eu me sinto muito responsabilizado em cada clique que dou. Uma foto diz muito mais de quem está atrás da câmera que quem está na frente. Cada vez que faço uma foto – E talvez por isso o faça tão pouco – penso o que aquela foto está dizendo sobre mim. Cada foto que vejo, seja minha, seja de fotógrafos ilustres, me faz pensar na historia de quem clicou e pouco de quem foi clicado.
Talvez por isso, acho que nunca faria uma foto de nu. Eu me sentiria mais nu que o modelo.
Mas as câmeras de celulares estão aí. Para mostrar até quanto o comportamento humano pode ser desumano, seja no banheiro, no parque ou numa fila de banco.
A propósito. Desta vez eu estava na fila certa !
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