terça-feira, 20 de setembro de 2011

A vaga certa?

Tão comum quanto pessoas usarem indevidamente a vaga para deficientes, são as pessoas, que como eu, se irritam com esta situação.

Já pensei maneiras de sacanear um cara que faz isso, mas sempre acho que não vale a pena e no máximo, dou aquela olhada com pena e balanço a cabeça em sinal de "não faz sentido".

Mas no último sabado vi uma cena no meu condomínio que me fez pensar.

Meu condomínio tem umas 180 casas dispostas em blocos, no que costuma se chamar de condomínio horizontal. A máxima distância entre a portaria e a casa mais afastada deve ser uns 200m. 

Os carros fazem parte do cotidiano do condomínio, como num mini-Brasil. Vejo diariamente cenas de pessoas que pra se deslocar, dentro do condomínio usam seus carros. Sim, tem um senhor que vai ver a mãe e os filhos de carro e pra isso tem que dar duas voltas desnecessárias. A pé iria em linha reta facilmente.

É comum também as pessoas irem até a portaria de carro pra pegar jornal, encomendas ou jogar o lixo - Numa cena deprimente, porque carregam o lixo com o braço estendido pela janela pra não "feder" o carro.

Já me cansei de ver cenas assim.

No sabado, pedi alguma coisa e quando chegou, fui (a pé) buscar na portaria. Por conhecidência uma encomenda de pizza estava chegando. O porteiro interfonou para o morador que veio buscar com seu carro.

Mas ai o inacreditável: Ele não saiu do carro. Parou atrás da portaria, o motoboy teve de entrar, entregar a pizza pelo vidro do carro, ele pagou e voltou para a sua casa, sem sair do carro.

Fiquei tentando imaginar o que leva uma pessoa a fazer isso numa linda noite estrelada.

Das várias hipoteses que levantei, uma vem me apurrinhando. Será que por alguma razão, algumas pessoas não estão criando uma sensação de incapacidade de se locomover? Como se as pernas deixassem de funcionar?

Outro dia assisti ao filme "O outro lado" que mostra pessoas que tem esse tipo de fetiche e sentem prazer em andar de cadeiras de rodas ou muletas - Filme aliás obrigatório.

Pensei que, talvez como uma criança mimada que vê as atenções serem dadas ao irmão caçula e passa a chupar o dedo ou fazer xixi nas calças, alguns motoristas veem a atenção dada aos deficientes e querem ocupar seus lugares.

Quase como tentando ter o melhor dos dois mundos.

Outro dia fiz algo tão impensadamente idiota, mas passional. Fui atravessar uma rua (outra vez a pé) e um senhor com muletas tentava atravessar também. Vi sua dificuldade, voltei, agarrei-o pelo braço e saí com o outro braço mandando os carros pararem. Juro que não pensei. Não sei de onde tirei essa ideia maluca. Mas atravessei com ele e depois conversamos um pouco.

Neste meu ato impensado, senti o ódio dos motoristas que tinham seus preciosos segundos roubados por um deficiente!

Voltando ao meu vizinho, estou criando a teoria que as pessoas estão, ainda que inconcientemente, deixando de lado sua capacidade de se locomover por meios próprios e formando uma imagem própria de quem tem problemas reais de locomoção e por isso, a vaga de deficientes e de fato sua.

Pense. Suas pernas querem ser usadas. Elas pedem por isso. Se não fosse assim, seus níveis de colesterol, glicose e tudo mais não estariam alterados.

E aquele senhor que ajudei, se tivesse que escolher entre ganhar um carro ou ter suas pernas de volta, acho que ele optaria pela segunda opção.

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