Há um ano eu gravava a entrevista para a EPTV. Foi uma experiência interessante externar os planos de enfrentar o transito a bordo de uma bicicleta. Fui até cobrado por alguns quando me viam de carro.
Mais que promessa, era um sonho de conseguir deixar o carro na garagem e usar a bike como meio de transporte.
Neste período pude repartir este sonho com muitas pessoas. Algumas tentaram, outras apenas pensaram, outras devem ter pensado “coitado, pirou de vez”, mas um ano depois é hora de relatar as experiências colhidas.
Neste período pude repartir este sonho com muitas pessoas. Algumas tentaram, outras apenas pensaram, outras devem ter pensado “coitado, pirou de vez”, mas um ano depois é hora de relatar as experiências colhidas.
Não quero fazer um mea culpa, apenas compartilhar as experiências no que posso melhorar para 2011.
A cidade.
Minha querida Rio Claro mudou muito do tempo em que enfrentei o transito pela primeira vez com minha Berlineta aro 20, num trajeto de um pouco mais que um quilometro entre a casa dos meus pais e uma loja pra pagar uma conta.
A cidade cresceu e o que era uma cidade plana, passou a invadir declives que antes ficavam na área rural da cidade. As ruas ficaram menores para o grande número de veículos, os veículos ficaram maiores e as motos se multiplicaram.
No trajeto que faço, enfrento um aclive pesado, a chamada “subida do Inocop”, com uns 500m de extensão e inclinação acentuada. Além de exigir preparo para escalar, ele termina em uma ponte sobre a Washington Luiz onde veículos trafegam em duas mãos.
Neste ponto, as bicicletas trafegam por teimosia. A melhor solução que encontrei é subir pedalando até os últimos 50m, desmontar, subir carregando a bike, ir até a metade da ponte, voltar a montar e seguir o caminho. Na volta é difícil descer na confiança que um ônibus não vai disputar com você e que o freio não vai falhar, então também desço desmontado. São minutos preciosos gastos com segurança. Se não fosse este trecho, juro que o pedal seria muito mais simples.
No decorrer do ano fui ajustando meu caminho. A rua 1 onde tem o terminal de ônibus foi reformada e ficou ótima para os ônibus e carros, mas inviável aos ciclistas. Teimei por ali por um tempo, até que desisti e resolvi ir pela rua 3 ou pela Av.7 e passar por trás do shopping.
Sempre defendi entre os ciclistas que calçada é lugar de pedestre, mas hoje estou repensando isso. Os pedestres abandonaram algumas ruas, por exemplo, as da Av. Tancredo Neves em frente ao terminal rodoviário, a concessionária Chevrolet. Não se vê pedestres por ali, a ciclovia e rua ali é absurdamente perigosa. Então resolvi usar a calçada algumas vezes. E gostei.
Obviamente que é a exceção e não deve ser regra. Mas com muito critério a calçada é uma opção interessante.
Até que me surpreendi positivamente com a população. Levei buzinada, espelhada, xingos e ignoradas, mas boa parte respeitou, sinalizou e foi gentil. Em São Carlos era muito mais assustador. A sensação que tinha é que eu era invisível.
As bicicletas
A dupla dinâmica Joss Stone e Bessie Smith deu conta muito bem do recado.
Bessie está comigo desde 1986, desde zero e agüenta muito ainda. Não tive problemas mecânicos graves. Joss foi pra revisão no meio do ano e Bessie logo em seguida, exceto pelo freio da Bessie, nada mecânico foi trocado.
Entretanto os pneus deram trabalho. Muitos furos e com chuva é complicado utilizar o aro 27 no asfalto.
Os freios poderiam ser melhores. Com chuva ficavam muito lisos, sem ajustes tendiam a falhar em raras, mas preocupantes situações. Em declives acentuados não me inspiravam confiança acima de 20 km/h.
Na próxima bicicleta devo repensar os itens freio e pneu.
Também faltou espaço para câmeras fotográficas. Mas nada que a mochila não resolvesse, mas uma bolsa mais à mão seria desejável.
O selim não é dos mais confortáveis, mas também não é muito critico. Um mais confortável seria desejável em trajetos mais longos, mas nos 7,5km que percorro dão conta.
Eu
Algumas situações me impediram de pedalar, não quero me desculpar, mas elas estão aqui para minha analise e de quem pretende entrar nessa de pedalar pelas ruas, o tamanho da encrenca.
Planejamento
Das situações que atrapalharam os planos, destaco algumas faltas de previsão. Por exemplo, ter de ir trabalhar com o carro para poder ir ao supermercado fazer compras depois do expediente. Isso aconteceu e poderia ser reduzido com algum planejamento semanal e mensal. Mais experiências para as próximas.
Chuva
Ainda não aprendi a enfrentar a chuva e em dias de chuva deixei a bicicleta em casa e fui de carro. Mesmo sem chuva, mas na eminência de chover. Como já escrevi acima, a bicicleta não se comportava muito bem na chuva, além da cidade sofrer uma transformação em comportamento. Os motoristas ficam mais agressivos.
Ciclista de óculos deve odiar chuva. Os óculos ficam molhados e não se vê quase nada. Tirar os óculos também não ajuda.
Pretendo ter alguma experiência e uma bicicleta mais adequada para as chuvas pra esses casos. Talvez não enfrentar a chuva logo de cara, mas naqueles dias em que está o tempo meio “chove não molha”, não temer ir de bike seca e voltar ensopado!
Sinusite
Outro fator que me abateu foi uma sinusite. Não sei ainda se usar a bicicleta com o rosto exposto ao frio e ao vento causa ou agrava a sinusite, mas nos meses frios ficou impossível usar a bicicleta. O rosto ficou muito dolorido, os olhos lacrimejaram muito. Tomei antibióticos e neste tempo, nada de bicicleta.
Preciso descobrir como conciliar bicicleta e frio. Vale lembrar que países frios têm grande frotas de bicicletas, então eu preciso aprender com eles, conversar com minha medica e enfrentar este problema.
Segurança
Apesar de ser um problema ligado indiretamente ao ciclismo por algumas vezes me senti sendo observado ou em situações delicadas quanto à segurança. Estas situações me fez repensar horários e trajetos e é mais um motivo que pode desencorajar o uso da bicicleta como meio de transporte. Os dias com horário de verão são ótimos.
Outras atividades físicas.
No inicio de 2010 conciliei a corrida a pé em dias que não pedalava, mas não levei muito adiante. Uma pena, porque senti efeitos ótimos. Também acho que preciso fazer algumas atividades para os braços. Para 2011 quero voltar a fazer corridas a pé, pular corda, talvez voltar a nadar e fazer exercícios específicos para os braços.
Resumão
No total foram 1066 km de pedal em 80 horas e 10 minutos no selim.
A média horária foi de 13,3 km/h e media diária de 3 km/dia sendo que meu objetivo era em torno de 6 km/dia.
A máxima velocidade no plano foi de 30,6 km/h com a Joss no dia 26 de Março, a maior distancia percorrida em um único dia foi de 26,6 km no dia 20 de Outubro também com a Joss.
No dia 22 de Dezembro de 2009 eu pesava 82kg, hoje peso 75kg. Fiz um regiminho, troquei o leite integral por desnatado e cortei o açúcar, nada muito sério. A perda de peso ajuda também a pedalar mais fácil o que ajuda a manter o peso. É um ciclo!
Como escrevi acima, se não alcancei meu objetivo numericamente, tenho consciência do passo que dei e de onde estou nesta caminhada.
Também quero mostrar a quem pretende se aventurar pelas ruas com sua bicicleta que os resultados não vêem do dia para noite mais são construídos dia a dia e que aí é que está a graça.
Por fim deixo um abraço ao Ely Venancio e ao Paulo Lima que fizeram a entrevista, dois profissionais que eu teria em minha equipe e a Marcela do Fantastico que fez o convite. Um abraço também ao Clayton Palomares que dividimos as alegrias e desilusões de pedalar numa cidade do interior chamada Rio Claro e ao Tiago Borguezon, um cara que realmente deixou o carro pra usar a bicicleta em tempo integral, que me cobrou quando me viu de carro pelas ruas e que só o exemplo já valia como “bronca”, não precisava nem abrir a boca.
Não queria fazer lista de agradecimentos porque não é um projeto que termina aqui, mas sem o apoio da família, dos amigos e do Alexandre meu mecânico da bicicleta, eu ainda estaria fazendo o mais fácil e andando de carro. Obrigado aos que entenderam meu apelo e de alguma maneira facilitaram minha vida neste caminho.